As mulheres morreram mil mortes antes de cumprir seus vinte anos. Foram nesta direção e naquela outra e ficaram isoladas. Tiveram sonhos e esperanças que também foram truncadas. Qualquer mulher que diga o contrário ainda está adormecida. Tudo isso justifica a existência dos descansos.
Apesar de que todas estas coisas aprofundam os processos de individuação e diferenciação, o amadurecimento e o desenvolvimento exterior, o florescimento, o despertar e a consciência, são também umas grandes tragédias e como tais se devem lamentar.
Criar descansos significa examinar sua vida e marcar os pontos em que ocorreram las muertes chiquitas y las muertes grandotas (as pequenas mortes e as grandes mortes).
Clarissa Pínkola Estés, Mulheres que Correm com os Lobos
Eu as conheço desde sempre, as mortes psíquicas. As minhas mortes. As mortes de mim mesma.
Este ano houveram muitas pequenas e grandes mortes na minha vida.
E chorei hoje, lendo esse trecho. Porque há muitas mortes órfãs em mim, mortes que não foram choradas. Ainda. Mortos que não tiveram sepultura. Ainda. Eles choram em silêncio dentro de mim, e faz-se necessário chorar com eles.
Teve início uma espécie de luto. Essas mortes serão lembradas, lamentadas, reconhecidas. Os mortos serão enterrados.
E essas mortes serão celebradas. Eu as celebro, porque sobrevivi.
Eu as celebro, porque vivi. Porque vivo.
Porque ainda estou aqui, orgulhosamente de pé.
Image Credit: H.Koppdelaney