Bicho

Bicho

#36

Eu não ando bem.
E também não ando mal.
Ando em linhas retas entre agora e depois,
Linhas sinuosas entre hoje e a memória.

Pedaços de mágoa
Retalhos de velhas tristezas
Costurados no forro do casaco.

Ecos de músicas antigas
Incessantes em minha cabeça
Me assombram.

Coisas que não têm explicação.
E outras que não têm cura nem salvação.

As feridas que me feriram
Andam despertas.
Caminham com minhas botas
Descansam do meu lado da cama
Me acordam no meio da noite.

Tento contar bençãos
E acabo enumerando fracassos,
Listando sonhos quebrados,
Chorando pelo que se perdeu.

Cada falha, cada ferimento,
Cada tropeço e cada estilhaço
Gravados nas lembranças
Marcados a ferro e fogo
Na pele, na alma, nos ossos.

Isso sou eu.
Um saco de ossos
Uma coleção de coisas escuras
Um bicho teimoso, encolhido
Que ainda espera o amanhecer.

Um bicho assustado, quebrado
Que ainda guarda um fio de esperança.
Bicho triste, castigado
Esqueleto de ossos brancos
Fantasma de dias melhores
Que nunca viram a luz do dia.

Image: Johannes Winger-Lang – CC By-Nd.

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