Eu sou.
Eu não sou o que seu olhar vê,
Nem aquilo que ninguém vê.
Não sou o que reflete o espelho,
Não preciso de espelho para ver.
Eu sou.
Inteira, devoradora,
Vazia, pecadora,
Despedaçada, confessora,
Caminhante, imaginária.
Eu sou.
E bruxa, e virgem e vampira.
E o fogo que consome a pira.
Sou aquela que febril delira,
E o eixo sobre o qual a Terra gira.
Eu sou.
Mistério que não se pode explicar,
Fúria que não se pode aplacar,
Nome que não se pode pronunciar,
Chama que não se pode apagar,
Eu sou.
Canto e grito e lamento,
A chuva, o sol, o tempo,
Histórias, lendas e sangue,
O pranto e o coração exangue.
Eu sou.
A força, a fraqueza, o tropeço,
O fracasso e um recomeço.
Eu sou a passagem dos séculos,
Eu sou o portal dos milênios.
Sou o que nem o tempo adivinha,
Sou o que ninguém quer saber.
Sou aquilo que não pode ser,
Sou o que não se pode esquecer.
Eu sou.
Imagem: Hamed Saber – CC
Lindíssimo…