Fantasma

Fantasma na chuva

A tristeza espreita nos cantos
Dos olhos, dos armários
No fundo das xícaras quebradas
Nas saudades que não quero mais.

Espreita.
E surge de repente
Fantasma translúcido
Lembrança de uma tristeza
Que não está mais lá.

E fujo.
Fecho os olhos,
Me perco nas águas claras
Da chuva fina e gelada.

Me encolho.
Como bicho castigado
Como as folhas na tempestade
Como um amor abandonado.

Escrevo.
Tristonha, tristíssima, melancolia.
Uma pintura em aquarela
Acabrunhada pelo tempo.

Suspiro.
Lembro do que não pôde ser,
De velhas tristezas
Com olhos de líquido azul.

Espero.
O vento feroz
A fogueira
A vida.

Image: Alyssa L. Miller – CC By.

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